No dia 1 de junho de 1890, por volta das 15h15 da tarde, na sua casa em S. Miguel de Seide, Camilo Castelo Branco colocava termo à vida, num momento de grande agonia e desespero. Passados precisamente 127 anos, completados nesta quinta-feira, o romancista embarcava no histórico Comboio Presidencial, utilizado pelos Chefes de Estado e suas comitivas nas deslocações pelo país entre 1910 e 1970, para a apresentação do novo Roteiro Literário Camiliano, Famalicão-Porto.
Numa jornada animada por algumas personagens saídas das novelas e romances camilianos e reavivadas pelo Grupo de Teatro Amador Camiliano (Grutaca) e pelo Greculeme, o presidente da Câmara Municipal Paulo Cunha e o diretor da Casa de Camilo, José Manuel Oliveira deram a conhecer este novo projeto turístico cultural, que promove e valoriza Camilo Castelo Branco e o seu legado literário.
O roteiro iniciou na Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, que detém um importante legado camiliano, nomeadamente a correspondência de Camilo e de Ana Plácido para o Amigo Freitas Fortuna e o revólver que o romancista usou para se suicidar. Camilo está sepultado no Cemitério da Lapa. Seguiu depois para a antiga Cadeia da Relação do Porto (Centro Português de Fotografia) onde Camilo esteve preso por duas vezes: a primeira, em 1846, acusado do rapto de Patrícia Emília de Barros; a segunda, em 1860 por crime de adultério. O pai e o tio de Camilo, Simão Botelho, o protagonista de «Amor de Perdição», também estiveram detidos neste estabelecimento prisional. Entre as obras que Camilo aqui escreveu conta-se a sua obra-prima, «Amor de Perdição» e também «Memórias do Cárcere».
Por fim, visitou-se a Livraria Lello, que entre 1982 e 2002, editou, em 18 volumes e em papel bíblia, as «Obras Completas de Camilo Castelo Branco», o maior projeto editorial de sempre relacionado com a bibliografia ativa do romancista de São Miguel de Seide.
O roteiro permite assim dar a conhecer o Camilo leitor e editado, na Livraria Lello, o Camilo escritor, a partir daquela que foi a sua cela na antiga Cadeia, e o Camilo imortal, no cemitério da Lapa onde tem o seu eterno repouso.
Para Paulo Cunha “este roteiro quer proporcionar condições para que possa tornar-se num instrumento de dimensão turística – com a presença cultural muito forte - , e também obviamente de dimensão comercial”. E acrescenta: “Se, neste roteiro que se realiza na cidade do Porto, se conseguir incluir uma visita inevitável à Casa-Museu Camilo Castelo Branco e ao Centro de Estudos, uma dimensão gastronómica – também ela muito presente na obra camiliana – e se somarmos a isso as viagens de comboio entre Famalicão e o Porto estou certo que se poderá construir aqui um produto turístico diferenciador”.
Por sua vez, José Manuel Oliveira explicou que “Camilo está polvilhado pela cidade do Porto”, exemplificando com “a rua onde morou, a Sé onde andou no Seminário ou as caves do vinho do Porto e a ligação a Dona Antónia”.
De facto, a cidade do Porto e Camilo Castelo Branco andaram sempre de mãos dadas, sendo que o romancista manteve uma ligação muito forte com a cidade e isso é bem visível nos seus romances, através das personagens e cenários tipicamente portuenses.
A jornada que contou com a colaboração da Fundação Museu Nacional Ferroviário (FMNF), que é a entidade responsável pela gestão do comboio presidencial, contou ainda com a presença do diretor regional de Cultura do Norte, António Ponte, de vários autarcas, responsáveis pelas entidades portuenses, entre outros.