Pouco passa das 21h30, no Centro de Estudos Camilianos, mesmo em frente à Casa-Museu de Camilo Castelo Branco, em S. Miguel de Seide, as luzes mantém-se acesas e aos poucos vão chegando os participantes para mais uma Noite de Insónia. É uma noite de janeiro, lá fora chove e faz bastante frio, mas não há desistências, os leitores estão cá todos!
Desde 2009, que a Casa de Camilo acolhe a comunidade de leitores, Noites de Insónia, um grupo de pessoas que se reúnem periodicamente, para conversar sobre livros e textos de Camilo Castelo Branco, cuja leitura é proposta pelos dinamizadores João Paulo Braga e Sérgio de Sousa, dois camilianistas que têm vindo a colaborar com a Casa de Camilo e que têm diversos textos publicados sobre o romancista de Seide.
A entrada é livre e gratuita e pode acontecer a qualquer altura da iniciativa. “A cada edição os participantes vão-se renovando, mas há um núcleo duro que se mantém, e temos sempre entre 15 a 20 pessoas o que é o ideal para a iniciativa”, conforme explica o professor de Literatura Portuguesa da Universidade do Minho, Sérgio Sousa.
Os textos são disponibilizados pelo Centro de Estudos Camilianos e depois da experiência da leitura individual de cada participante, faz-se uma breve contextualização da obra e num clima espontâneo, de convívio e boa disposição partilham-se opiniões, reflete-se sobre o tema e o autor e sempre surgem novas interpretações e ideias.
Desta vez, o texto proposto foi o conto “Beatriz de Vilalva” (Noites de Insónia, 1874) que é um dos muitos textos de Camilo Castelo Branco em que o autor assenta a efabulação da narrativa em bases factuais, que transforma com a sua imaginação romântica.
“As obras de Camilo têm uma abordagem muito visual, o que cativa e prende os leitores, além disso, ao relatar histórias de base factual e de grande ligação à região, identificando as personagens o autor cria um vínculo muito forte com os leitores, até porque o Portugal Camiliano é ainda o Portugal de hoje. Camilo continua atual”, salienta Sérgio Sousa.
Para João Paulo Braga, professor e investigador do Centro de Estudos Filosóficos e Humanísticos, da Universidade Católica Portuguesa, “Camilo está habituado a captar a curiosidade dos leitores, a motivá-los e a despertar emoções e as pessoas apreciam as suas obras”.
De resto, os textos camilianos selecionados para esta comunidade de leitores seguem diversos critérios como explicam os dinamizadores. “São textos curtos, menos conhecidos do grande público e com uma ligação mais ou menos direta à região”, indo de encontro ao público-alvo.
“Temos um grupo muito heterogéneo de participantes, com destaque para os professores, mas também pessoas ligadas à informática, empresários, um engenheiro, um médico, e de outras áreas o que é uma mais-valia para a troca de experiências e opiniões”, adianta ainda João Paulo Braga.
Para o diretor da Casa de Camilo, José Manuel Oliveira, “as “Noites de Insónia” têm como finalidade a descoberta de formas diferentes de aproximação aos textos camilianos, através da discussão em grupo de determinadas obras e textos. Do gosto pela leitura e da conversa sobre o que se lê, da troca de opiniões, de pontos de vista, de associações, procuraremos criar cumplicidades e desenvolver o gosto por uma leitura mais ativa e partilhada da obra do romancista de Seide.” “Mais importante do que falar de Camilo é proporcionar que os textos falem por si” acrescenta João Paulo Braga.
Refira-se que “Noites de Insónia, oferecidas a quem não pode dormir”, trata-se de uma coleção de doze volumes, em que Camilo Castelo Branco apresenta pequenos textos sobre variadas temáticas e que, segundo o próprio, foram inspirados nas suas muitas noites de insónia.
Próximas edições de Noites de Insónia:
Técnicos responsáveis: João Paulo Braga e Sérgio Guimarães de Sousa
Público-alvo: maiores de 16 anos (grupo até 30 pessoas)
Duração: 1h00
Calendarização: 1 vez por mês.
Local: Casa de Camilo – Museu
Inscrições: a decorrer
Início: 10 janeiro 2018
10 de janeiro - “Beatriz de Vilalva” (Sérgio Sousa)
7 de fevereiro - “Há vinte anos!” (João Paulo Braga)
7 de março - “Uma viscondessa que não era” (Sérgio Sousa)
4 de abril - “Uma praga rogada nas escadas da forca” (João Paulo Braga)
18 de maio - “Maria Moisés” (Sérgio Sousa)
6 de junho - “Morrer por capricho” (João Paulo Braga)
4 de julho - “O cego de Landim” (Sérgio Sousa)
5 de setembro - “A morgada de Romariz” (João Paulo Braga)
3 de outubro - “A caveira” (Sérgio Sousa)
7 de novembro - “Voltareis, ó Cristo?” (João Paulo Braga)