Eduardo Prado Coelho costumava dizer que “tornamo-nos amigos de pessoas que não conhecemos porque um dia descobrimos um livro delas”. Este poderia ser o início da história da amizade entre Prado Coelho e o escritor e filósofo José Gil, pois foi a troca de livros entre ambos que esteve na origem da admiração mútua. José Gil recebeu sexta-feira, o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, atribuído pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e pela Associação Portuguesa de Escritores (APE).
Na hora de agradecer o galardão, o autor considerado um dos grandes pensadores do mundo pela revista francesa Le Nouvel Observateur, em 2005, realçou a importância do prémio “porque recorda Eduardo Prado Coelho”. “O país precisa de manter viva a memória de Prado Coelho”, afirmou o escritor, referindo que “há um esquecimento do que ele fez, não se fala dele no espaço público. Prado Coelho pela sua intervenção pública, social e política era ele próprio um espaço público, que fazia circular uma série de ideias”. E questionou “quem substitui Prado Coelho? Ninguém, não há ninguém que faça o que ele fazia”.
A obra premiada foi “Cansaço, Tédio, Desassossego” (Relógio D’Água) que debate a complexidade dos heterónimos de Fernando Pessoa e a obra do poeta d’”A Mensagem”. O livro mereceu a unanimidade do júri, valendo-lhe o prémio monetário de 7.500 euros. José Gil disse sentir-se ainda “reconhecido no seu trabalho”, sublinhando que o prémio o tocou, em primeiro lugar, pelo trabalho que desenvolveu sobre Fernando Pessoa e os seus heterónimos.
Para o presidente da Câmara Municipal de Famalicão, Paulo Cunha, a atribuição do Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho a José Gil “é um daqueles casos em que o autor e a sua obra dignifica o prémio”. Considerando José Gil “um dos melhores pensadores do nosso tempo”, o autarca salientou que se cumpre assim “mais um etapa de afirmação deste projeto de valorização da obra de Eduardo Prado Coelho”.
Recordando que a Câmara Municipal de Famalicão atribuiu anualmente dois prémios literários – o de Conto Camilo Castelo Branco e este de Ensaio – o autarca assinalou que “se trata de um sinal claro do investimento e da aposta que fazemos na cultura”. E realçou: “Quando Eduardo Prado Coelho nos legou este espólio quis dar um sinal que Famalicão podia ser um chão fértil para este espólio”.
A sessão contou ainda com a presença do presidente da APE, José Manuel Mendes que considerou José Gil “um filósofo de uma dimensão invulgar no contexto do país e para além dele”.
Ainda antes de receber o galardão José Gil visitou a Biblioteca Eduardo Prado Coelho, onde está patente o espólio bibliográfico de Prado Coelho, composto por 12.500 título, doado ao município famalicense. Rodeado pelo ambiente “Eduardino”, o filósofo afirmou que “este espaço merece ser conhecido”, pois “tem aqui preciosidades literárias que não existem em mais lado nenhum”.
A sessão ficou ainda marcada pela inauguração da exposição dos livros de José Gil que integram o espólio literário de Prado Coelho. Ao todo, são nove livros que incluem dedicatórias de amizade e admiração. A obra contém ainda anotações de Eduardo Prado Coelho, prova do cuidado e do interesse com que lia José Gil. Os livros ficarão expostos ao público na Biblioteca Municipal de até ao final de novembro.
Refira-se que o Grande Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho já distinguiu Rosa Maria Martelo, Manuel Gusmão e Vítor Aguiar.