Do alto dos seus 77 anos, Teolinda Gersão apresentou-se, sábado, na Casa de Camilo com a naturalidade e o à-vontade próprio das escritoras consagradas. A autora de "Prantos, amores e outros desvarios" foi contemplada com o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, atribuído pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e pela Associação Portuguesa de Escritores (APE).
Num discurso bastante eclético, a escritora falou do país e da literatura. Disse que “os portugueses não podem ser um povo sem voz” e confessou-se como grande admiradora da obra de Camilo. “É uma alegria enorme ver o meu trabalho reconhecido e é uma grande honra estar aqui porque eu também sou uma grande leitora de Camilo Castelo Branco” salientou, referindo que “Camilo é um autor que escreve com carne e com sangue, com experiências de vida do que vê e do que o rodeia”.
Teolinda Gersão recebeu o prémio das mãos do presidente da Câmara Municipal, Paulo Cunha, na presença do presidente da APE, José Manuel Mendes, naquela que foi a 25.ª edição do Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco.
Isso mesmo salientou José Manuel Mendes que enalteceu “os 25 anos de união com o município de Famalicão”. Também Paulo Cunha destacou a “cultura de compromisso” desenvolvida com a APE, corporizada neste prémio que “é a pedra angular do projeto camiliano”.
Sobre Teolinda Gersão, José Manuel Mendes salientou “a escritora singularíssima”, acrescentando que o seu nome está “entre os maiores da contemporaneidade”.
De resto, a porta-voz júri do prémio, Raquel Camacho realçou que “Teolinda é uma escritora que escreve a vida” e que revela um "domínio total das características do conto". A “língua cuidada, elegante, erudita" e a “capacidade de surpreender sucessivamente no conto seguinte, sendo que o anterior parecia ter sido, indubitavelmente, magistral", foram outras das caraterísticas sublinhadas pelo júri a propósito dos contos reunidos obra, editada pela Porto Editora.
Esta é a segunda vez que Teolinda Gersão recebe este prémio, tendo conquistado pela primeira vez em 2002 com "Histórias de ver e andar".
O Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, no valor de 7.500 euros, foi criado em 1991 pela APE em parceria com a autarquia de Vila Nova de Famalicão e distingue um autor português ou de um país africano de expressão portuguesa.
A entrega do Grande Prémio Camilo Castelo Branco integrou a 4.ª edição dos Encontros Camilianos de São Miguel de Seide, que decorreu durante os dias de sexta-feira e sábado, na Casa de Camilo, e que ficou também marcada por uma homenagem ao investigador e biógrafo camiliano Alexandre Cabral.