Hélia Correia recebeu ontem, 15 de junho, na Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos, em Lisboa, o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco 2014 pela sua obra “Vinte Degraus e Outros Contos”, publicada pela editora Relógio D'Água. O prémio, no valor monetário de 7.500 euros, foi entregue pelo presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha, numa cerimónia intimista que contou com a presença de muitos amigos e admiradores de Hélia Correia, como os escritores Mário de Carvalho, Lídia Jorge, Pilar del Rio, João Barrento, Jorge Reis Sá, Teresa Belo, a cantora Amélia Muge, e o presidente da Associação Portuguesa de Escritores, José Manuel Mendes, entre muitos outros.
“Um livro forte, que espanta, que é feito de narrativas inquietantes, sem dúvida. Um livro que não se consegue deixar de ler. Até porque, nestes contos, há verdadeiramente qualquer coisa que altera a escala do nosso olhar”, disse a propósito da obra vencedora a porta-voz do júri e professora universitária, Sara Silva.
A escritora premiada foi assim o centro das atenções pelo prémio que recebeu, mas sobretudo pelas razões da sua atribuição. “Escritora única e maior da língua portuguesa que exibe em ‘Vinte Degraus e Outros Contos’ um perfeito domínio da língua portuguesa a que já nos habitou em outras obras”, acrescentou a porta-voz do júri, enaltecendo a qualidade, força e coerência de toda a obra literária da autora . “Com uma obra extensa (inaugurada em 1981, com O Separar das Águas), plural, consensualmente reconhecida pela crítica como tematicamente coesa e discursivamente exímia, Hélia Correia tem vindo a revelar «mão de mestre» na criação literária”, disse.
Quem ombreou em protagonismo com Hélia Correia foi Camilo Castelo Branco e José Saramago. A admiração pelo escritor de Seide S. Miguel, que dá o nome ao Grande Prémio do Conto, e pelo Nobel da Literatura, em cuja casa decorreu a cerimónia, foi notada em todas as intervenções. Hélia Correia particularmente não escondeu “que este prémio, com este nome, é para mim muito especial, muito pessoal”. E explicou: “A disputa entre Camilo e Eça fez parte do meu quotidiano infantil, com o meu pai e a minha mãe a defenderam cada qual o seu partido”.
Na hora de receber o prémio das mãos do presidente da Câmara Municipal, Hélia Correia não deixou de “agradecer e cumprimentar” a autarquia famalicense “por ter esta ligação com Camilo e por ter nas suas escolhas esta preocupação pela divulgação e valorização da sua obra”. “Dá vontade de nos tornarmos municipalistas outra vez”, concluiu.
“Sabemos que a existência da Casa de Camilo e do Centro de Estudos, em Seide S. Miguel, faz o município de Famalicão ter a responsabilidade de perpetuar a obra camiliana”, disse o presidente da Câmara, assumindo como um bom desafio este legado. Até porque, disse, “não nos sentimos sozinhos neste processo. Sentimos o carinho e o conforto de muitos escritores contemporâneos que, com a sua presença, visita e frequência, nos dão as condições essenciais para fortalecer este nosso trabalho.”
A cerimónia terminou com a leitura de um conto do livro premiado pelo autor Luís Lucas e pela atuação de Amélia Muge que, acompanhada ao piano por Filipe Raposo, interpretou alguns poemas da amiga Hélia Correia.
A escritora foi o 23º nome premiado com este galardão, depois de Pires Cabral, Mário de Carvalho, Maria Isabel Barreno, Luísa Costa Gomes, José Eduardo Agualusa, Afonso Cruz, entre muitos outros.
Instituído a 1 de junho de 1991, ao abrigo de um protocolo entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão e a Associação Portuguesa de Escritores, o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco destina-se a galardoar, anualmente, uma obra em língua portuguesa de um autor português ou de um país africano de expressão portuguesa.