Os Encontros Camilianos de São Miguel de Seide, que decorrem nos dias 9 e 10 de outubro, em Vila Nova de Famalicão, vão ficar marcados por um ato de justiça para com a memória de Camilo Castelo Branco e da sua amada Ana Plácido. No dia 10, pelas 11h00, será colocada uma coroa de flores no jazigo de Ana Plácido no Cemitério Paroquial de S. Miguel de Seide. O momento que à primeira vista parece banal, está revestido de grande simbolismo e importância, tendo em conta todo o processo que o antecede. 120 anos após a sua morte, Ana Plácido regressa a S. Miguel de Seide, depois de um longo e complicado processo de trasladação das ossadas.
No antigo Cemitério Municipal de Vila Nova de Famalicão (situado no espaço que corresponde hoje à Rotunda 1.º Maio), existia um jazigo em capela com o número três onde se encontravam depositados os restos mortais de Ana Augusta Plácido (Viscondessa de Coreia Botelho), de Nuno Plácido Castelo Branco (filho de Camilo e Visconde de S. Miguel de Seide), de Maria Isabel da Costa Macedo Castelo Branco, (primeira mulher de Nuno), de António Joaquim da Costa Macedo (pai de Isabel), de Maria (filha de Maria Isabel e de Nuno) e de Sara (filha de Nuno Plácido com a sua segunda esposa Ana Rosa Correia). No 1.º quartel do séc. XX, os restos mortais foram trasladados para o novo Cemitério Municipal, ficando em campa rasa.
Em outubro de 1994, no âmbito da preparação das Comemorações do Centenário da Morte de Ana Augusta Plácido (1895-1995), a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão solicitou ao Instituto de Medicina Legal do Porto a realização de exames de Antropologia Forense, vindo as perícias a confirmar que se tratavam das ossadas de Ana Plácido, Isabel Macedo, de António Macedo, de Nuno Castelo Branco e de Maria. Desconhece-se o paradeiro dos restos mortais de Sara.
A autarquia famalicense decidiu, este ano, construir um jazigo no cemitério da freguesia de São Miguel de Seide para nele se depositarem perpetuamente os restos mortais dos familiares de Camilo Castelo Branco, a que se juntarão oportunamente as ossadas do outro filho do romancista e da sua amada, Jorge Castelo Branco, que já repousam no cemitério de Seide.
“Um ato de justiça para com a memória de Camilo Castelo Branco e de Ana Plácido, duas figuras da nossa história que tanto nos deram e tanto nos orgulham”, refere a propósito o presidente da Câmara Municipal Paulo Cunha. O autarca explica que todo o processo é bastante demorado e burocrático, “mas esta é uma ação que tinha que ser feita, por respeito a Camilo e a Ana Plácido e à sua história”. E acrescenta: “Os familiares de Camilo regressam assim à sua terra, ao seu lar e a onde foram felizes”.
Refira-se que Camilo Castelo Branco, conforme o seu pedido, está sepultado no jazigo de um amigo, João António de Freitas Fortuna, no cemitério da Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa.
Depois do sucesso alcançado em 2014, os Encontros regressam à Casa de Camilo, nos dias 9 e 10 de outubro, reunindo diversos “amigos” do escritor para debater e refletir sobre a sua vida e obra. A iniciativa organizada pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, através da Casa de Camilo, pretende-se sedimentar e afirmar como um evento âncora da política cultural do município.
Excerto de uma carta de Camilo ao Visconde de Luzares:
“Eu vivo ha 27 annos em uma casa campestre, entre S. Thyrso e Va Nova de Famalicão, conhecida por S. Miguel de Seide. Aqui escrevi a maior parte dos meus livros, aqui envelheci completamente afastado do mundo - q abandonei no vigor da mocidade, e aqui tencionava morrer. Porém, a suprema desgraça me veio aqui ferir o mais sensivel da minha alma matando-me uma neta e inlouquecendo-me um filho – os unicos amparos a - q se encostava a minha velhice.”